Alice a Louca
Descobre a minha história
Alice nasceu destinada à rejeição. Nasceu num corpo de rapaz, mas sempre se sentiu rapariga. Quando podia enfiava-se na roupa das irmãs e desfilava pela casa. A família nunca aceitou tais perversões e acabaria mesmo por rejeitá-lo, ainda adolescente, no dia em que saiu à rua exibindo o vestido de noiva da mãe. Esteve internado em hospitais, até conseguir fugir. Mendigou pelo cais até que a Madame, sempre atentas às vontades dos fregueses e com pena das perseguições aos homossexuais na altura, decide dar-lhe um quarto na pensão e rapidamente começou a ter uma carteira de clientes. A Pensão era um sítio seguro para encontros entre homens, longe do olhar da PIDE e com a ajuda da amiga, Rosa Bandida, que mantinha relações próximas com a polícia.
Com o primeiro dinheiro que juntou, Alice começou a preparar o seu casamento, dizia sonhar casar-se de branco, com o apetrechado moço de recados da Pensão.
Para ti sem segredos
Guardava a sua “família ao longo dos tempos”, como gostava de chamar à coleção de fotos dos seus semelhantes, que a Madame lhe foi ofecerendo.
Alice fantasiava à volta da vida de Clémentine Delait, uma mulher com hirsutismo e que um dia resolveu deixar crescer a barba. Ao contrário de ser considerada uma aberração, era idolatrada e muito famosa. Até abriu um café e casou com o amor da sua vida. Alice sonhava seguir-lhe as pisadas. Mas para a Madame, Alice tinha de ser apresentar impecavelmente barbeada sempre que era chamada à Sala da Meninas.
Vida de fugas
Vários foram os episódios de censura que Alice sofreu, quer familiar, política, religiosa e social. O primeiro foi aos 8 anos, quando começou a tocar-se e a masturbar-se, quis perceber se o seu vizinho também sentia o mesmo prazer que ele, ao tocar-se da mesma forma. Foi apanhado pela vizinha a masturbar o filho, mas para Alice foi pura curiosidade, longe de qualquer especulação sexual. Saturados dos seus jeitos femininos, internaram-na no Hospital Miguel Bombarda, onde conheceu um bailarino na sala de tratamento de choques elétricos, por quem sentia um caso platónico, visto o ponto de encontro ser o momento do tratamento. Alice achava romântico o tratamento a dois: “ Na saúde e na doença”, suspirava.
O único dia em que conseguiram dar a mão foram descobertos e Alice transportada para a Mitra, onde desabrochou todo o seu instinto de ser diferente dos outros ao ser violada. Passadas 2 horas, estava realmente apaixonada.
O sonho de Alice
Suspirou desde o primeiro dia em que o viu, quando entrou de rompante no quarto da Madame, e esta conversava com alguém. Ficou paralisada com a personagem alta, de braços fortes, e com o volume do seu mangalho, difícil de esconder mesmo naquelas calças largas que usava.
” É o nosso novo moço de recados.”, ouviu da Madame. Permanecendo em silêncio, deu um passo para trás e disparada fugiu para o seu quarto. O coração de Alice batia forte de tesão, pegou na lata de laca e masturbou-se a pensar no tamanho do moço de recados. O moço de recados, contratado pela Madame, tratava da manutenção e de toda a logistica necessária para o bom funcionamento da Pensão, fora e dentro dela. O quarto da Alice (repentinamente) estava constantemente a exigir manutenção e o moço de recados era um excelente trabalhador. Afinal de contas, ele era “Pau para toda a hora”.
Diário de Alice: De desgraçada a desejada
10 de Junho – Feriado
Dias de calores na cidade e no corpo. Bastou o seu olhar para acender em mim o maior de todos os fogos, maior que as chamas que devastam as florestas nestes dias abrasadores. Sorriu para mim, com aquele jeito único que me faz amar como nunca amei. Ainda sinto as pernas a tremer e o desejo a crescer. Ai moço de recados como sonho devorar de novo esse descomunal mangalho… casa-te comigo amor
Que dias temos tido, querido diário. Este mês vai render. Não tivesse nascido eu com um dom e estaria com o cu num trapo. Isto de nascer menina num corpo de homem não é fácil, mas estou cada vez melhor. O gozo que me dá enganar os tropas da província que vêm pela primeira vez às putas! Caem todos na historia de que me viro de costas por ser tímida. Rio da vida e da sorte em ser puta.
Gíria das Meretrizes – A arte de saber comunicar
Abelha-mestra – Madame
Adaga – Navalha
Andar ao fanico – Diz-se da meretriz que anda, de noite ou de dia, pelas ruas, mostrando-se, provocando
Anjo da guarda – Soldado da guarda municipal; o advogado de defesa
Archote – Copo grande com vinho
«Queimar o archote» significa «beber meio litro»
Arenga – O fluxo menstrual da mulher
Bailão – Fadista; apaixonado
Baiuca – Taberna; betesga; cubículo; bordel
Balseira – As partes sexuais da mulher
Bilharda – O pénis
Boneja – Meretriz
Borrega – Mulher apetitosa
Búzios – Seios de mulher
Caça às borboletas – Caça às prostitutas por parte da polícia
Caixa – O ânus
Caixa de cornos – A cabeça
Cachimbos – Os pés
Cegonha – Agente da polícia
Chata gorda – Carteira recheada
Chicote da barriga – O pénis
Culatrona – Meretriz vilíssima
Entra-na-música – Espião da polícia
Frasco – O ânus
Furo – O acto da cópula
Gregório – Pénis
Habitante da torre ou Marinheiro – Piolho
Hóspede – Piolho do corpo
Inglês – Percevejo
Juiz do Bairro Alto – Deus
Mangalho ou Pechota– Pénis
Meter os tampos dentro – Desflorar uma virgem
Pivinha – Idoso com apetites por raparigas novas
Pombinha – O órgão sexual da mulher
«Ó filha, larga… não é caixa das almas! – Está a demorar-se muito com um cliente.
“Amante Perfeita” – Cartilha de recepção da Madame às pombinhas
– A nossa porta são como as tuas pernas, estão sempre abertas. Ao toque da sineta todas as meninas à sala.
– Posição confiante e orgulhosa pelo serviço que prestamos à nação. Homem que recorre às meninas não anda a desonrar donzelas e a desviar as casadas para o travesseiro do alheio.
– Cabeça erguida, para não te cair a coroa!
– Asseio é a regra da casa. Lava a gruta de amor com água quente e sabão. Em caso de ardor fazer banho de assento de tomilho e alecrim.
– Inspeção vaginal semanal obrigatória no dispensário.
– Manter as coxas livres de celulite, peles cuidadas com óleo de amêndoas. Mergulhar os seios em água gelada e a seguir massajar a firmeza. Para velhas e descuidadas bastam as esposas.
– Seja atenta com o cliente. Quanto mais jóias, maior a atenção.
– Não te deixes seduzir por falsas promessas dos muitos chulos da cidade.
– Proibido circular nas zonas de giro da prostituição vagabunda. Atenção às multas.
– Pecado é criar tesão e deixar na mão.
– Mangalho satisfeito é cliente perfeito.
– Fica atenta e evita barrigadas. Para desmanchar cachopos tomar chá de ervas-das-sete-sangrias ou sargacinha dos montes e chá de ensopo, tomado após a meia-noite, três dias seguidos. Comer caldos de galinha preta.
– Abre as pernas e fecha a boca. Quem come calada come mais.